A cega e a sábia

A Cega

Primeiro toque.

E ela acordou. Demorou um pouco para sair da cama pois sua cabeça doía muito.
– Deve ser por causa da choradeira de ontem – falou baixinho com os olhos ainda fechados.
Respirou fundo e foi se trocar. Ela nunca gostou da blusa de uniforme cinza, ficava bonita quando outras meninas usavam mas nela não. A barriga sempre ficava evidente naquele uniforme.
O resto de refrigerante que sobrou da noite passada serviria como café da manhã junto com alguns biscoitos.
– Pra quê reclamar do peso se você só come porcaria? – Pensou a cega com um pouco de lagrima nos olhos.

Segundo toque.

        Deu um pulo da mesa e correu para o banheiro para escovar os dentes e pentear os cabelos, que nunca lhe agradaram muito. Pensou em fazer aquele penteado que viu na internet mas ela nunca levou jeito com grampos e tranças.

Terceiro toque.

         Ela foi pro quarto da mãe, deu um beijo no rosto dela ainda dormindo e ficou alguns segundos ali só pra sentir o cheiro do cabelo loiro da sua mãe.
Saiu de casa com a mochila meio pendurada, quase arrastando de tanta pressa.
– Oi amor, dormiu bem? – A cega se aproxima para lhe dar um beijo.
– Já falei que na terceira vez que eu ligar é pra você me esperar aqui fora. Da próxima vez, você sobe sozinha.
– Desculpa, é que eu acordei com dor de cabeça, fiquei enrolando na cama. – Ela ficou um pouco assustada com a atitude. Depois da discussão da noite passada, ela o esperava mais brando.
– Você ta me enrolando isso sim. Me dá o celular.
Ela deu o celular rosa que o pai tinha lhe dado. Já sabia que ele não acharia nada de suspeito lá mas, preferiu dar pra que ele não ficasse mais bravo.

Ele verificou todo celular até chegarem ao colégio. Chegaram.

Continua.